segunda-feira, 29 de maio de 2017

verborragia (ou a falta de)

eu sempre fui palavras. a verborragia me consumia  antes mesmo de conseguir compartilhar com outras pessoas - um cérebro inquieto, um vulto de mão pelo papel, um teclado furioso.
e logo eu, formada mais de palavras que de carne, me descobri sem palavras para descrever o que eu sinto por ela.

talvez hajam palavras para explicar, mas se existem, desconheço. faz um tempo aue percebi que preciso aprender um idioma todo antes de - talvez - conseguir expressar completamente o que é olhar para ela. o que é o olhar dela... me invade, me preenche e me afoga. perco as palavras, esqueço meu nome.

só o que fica é uma certeza:
eu preciso aprender um idioma novo que me dê palavras para expressar o que é o universo dela.

domingo, 28 de maio de 2017

sobre ser uma mulher apaixonada por outra mulher

ser mulher e estar apaixonada por uma mulher é um ato de resistência. assumir estar apaixonada é um ato de resistência. querer declarar essa paixão pro mundo todo o tempo todo é um ato de resistência.
eu, como uma mulher que está apaixonada por outra mulher, resisto.

minhas lágrimas caem e eu acordo de hora em hora de madrugada por simplesmente não saber o que aconteceu, se aconteceu alguma coisa, se está tudo bem. não sei se ela dormiu ou se está - da forma dela - resistindo. não sei.
a incerteza me consome.

acordo e espero notícias. qualquer coisa. um toque no celular, um "tô ok". continuo esperando. meu coração na minha boca e minha ansiedade no céu.
não posso evitar.
somente existir é resistir.

segunda-feira, 20 de março de 2017

ela.

meu coração acelera.
ela faz meu coração bater mais rápido que qualquer coisa havia feito nos últimos anos.

minha respiração fica entrecortada.
é ela: chegando cada vez mais perto, me abraçando, enviando uma mensagem. é ela em uma foto, é ela em uma música.

por alguns segundos eu fico sem fala.
é ela. contrariando todas as possibilidades, eu paro de falar.
eu não sei o que falar e eu não tenho o que falar: só quero admirá-la.

meu sorriso abre involuntariamente.
é ela. eu quero rir de tudo: do seu drama, do seu nervosismo escondido e do seu jeito sem jeito.

eu não preciso de música pra me acalmar: sua voz já cumpre esse papel.
sua voz é música.

todos aqueles sinais em seu rosto são como estrelas. estrelas que eu quero alcançar com os meus lábios e roubar pra mim; estrelas que eu quero encarar quando acordo.
...talvez se eu juntar os pontos, isso tudo vire arte.

me sinto lentamente cada vez mais desfocada e cada vez mais atrapalhada; meu pensamento voa longe
é ela: não consigo não pensar em enchê-la de beijos ou segurar sua mão ou fazê-la rir ou contemplar sua existência do mesmo jeito que um amante da arte contempla sua pintura favorita.

e eu inspiro; e eu me inspiro.
e eu escrevo.
me sinto viva novamente:
é ela.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

ame-se

Aprendi a me amar.
Aprendi que eu sou a pessoa mais importante da minha vida.

Não foi fácil. Pra falar a verdade, não é fácil. Não é fácil se botar em primeiro lugar, não é fácil dizer que ama o que todo o resto do mundo diz que é errado, que você tem que mudar.

Uma coisa que vem com se colocar como prioridade é ter que aceitar tuas qualidades... e tuas falhas. Não as falhas que tentam impor que você tem (aliás, não importa o tamanho do teu jeans, tu continua sendo linda!), mas as falhas que você precisa mudar pra se tornar uma pessoa melhor.

E não é fácil isso, de reconhecer o que não te faz evoluir, principalmente quando teu eu-anterior não sabia nem o que era amor próprio. É muito mais fácil voltar a se odiar que fazer algo pra mudar.

Eu aprendi a me amar, mas eu quero amar a melhor versão de mim.

Amar a si mesmo é uma construção árdua e diária, mas é a construção mais importante da minha vida.
Hoje eu sei que posso ser feliz comigo mesma, sem mais ninguém.

quinta-feira, 19 de março de 2015

vamos falar de racismo

"somos todos iguais"

"negro que é racista com si próprio"


"mesmo sendo branco,
eu sou filho/neto de negro que estudou e venceu
por que você também não pode?"

"quer entrar numa universidade? estude"


***

Embora eu concorde (claro) que pra entrar numa universidade você tem que estudar, muita gente esquece que você precisa ter meios para estudar. Em escolas privadas, qual é a cor de pele predominante dos alunos? Na que eu estudei, era branco pra todo lado, gente morena também. Não consigo lembrar de alguém realmente negro. Eu, por exemplo, não sou negra.
Sou morena.

Sou morena. Estudei em escolas particulares minha vida toda e entrei pra universidade no primeiro ENEM que eu fiz. 

Quando eu estava no ensino médio, ver gente branca pra todo lado não me incomodava (até por que né, quando que ver gente branca incomoda? Se incomodasse, a presença de brancos não era tão forte em todos as mídias visuais - é só ligar a tevê ou abrir uma revista de moda e prestar atenção).

Eu tenho consciência de que não sei nada sobre o que um negro realmente sofre. Eu sempre estarei disposta a CALAR A BOCA e escutar quando um negro está falando. Você, branco com antepassados negros, também não sabe nada. Você não sofreu na pele. Ninguém te olhou torto numa loja achando que você ia roubar algo por causa da cor da sua pele. Ninguém te negou trabalho por que "é melhor pra empresa" que o trabalhador seja branco. Você venceu na loteria da vida.

Muito normal como a maior parte dos negros que eu vi na minha universidade estavam limpando o chão ao invés de estudando, né? Normal no sentido de comum, sim, é muito comum. Mas normal do sentido de aceitável, num país como o Brasil, onde grande parte da população é negra? Não. Nunca. Jamais.

Não abra a boca e diga que cor não faz diferença; cor faz muita diferença. Dizer que todos somos iguais é fechar os olhos pro racismo velado que está presente em todos os cenários do Brasil.

Então sim, quando o oprimido abrir a boca pra falar, você, no papel de opressor, cala a boca e escuta.

***

esclarecendo que eu sei que não são só negros que são pobres e estudam em escolas públicas, mas é sabido também que negros ganham salários mais baixos que brancos, e morrem mais cedo por motivos de condições de vida e violência.

sofi xx

sábado, 14 de março de 2015

confissões de uma mente perturbada

Quando criancinha, eu queria ser tudo (escritora, dançarina, cantora, atriz, princesa...).
Minha mentalidade mudou um pouco com nove anos: eu só queria ser escritora e cantora.
E no começo da adolescência, ainda mudou um pouco - eu queria ser roteirista e escritora.
É bonito isso, de continuar querendo escrever - tudo porque eu sempre gostei de ler e queria criar minhas próprias histórias. Meu primeiro livro (com sete anos) tinha como personagens principais as meninas superpoderosas.

Hoje, com dezessete anos e no terceiro período de Letras, eu acabei tomando gosto por uma visão romanceada de ser professora. Algo na ideia em educar e inspirar pessoas me encantou de uma forma que ó, nem sabia ser possível. Mas eu sei ser professora de inglês não vai ser fácil. Eu sei que pensar que vou ser a professora perfeita e meus alunos vão me amar vai acabar me frustrando, então tô tentando refrear essas expectativas loucas que teimam em surgir. Enfrentar meu pânico de estar na frente de uma sala, compartilhando conteúdo, não tá sendo fácil. E minha insegurança no meu próprio conhecimento também não ajuda muito - eu sempre penso que não sou boa o suficiente. Vai ver é porque não sou mesmo.

Vai ver isso é um pedido de desculpas alguns anos antes de tudo isso começar por não ser boa o suficiente como professora e não conseguir saciar essa minha vontade agora conhecida de formar bons seres humanos.

Como aluno, é muito fácil pensar que ser professor é fácil. Você só precisa ir lá na frente e jogar conhecimento, afinal. Mas não é com essa mentalidade que a gente começa. Na universidade, tudo que você ouve falar são de teorias e métodos e práticas de como passar tuas aulas da melhor forma pros seus alunos, métodos que eu nunca tinha visto na vida. Formas de ensinar completamente desconhecidas por mim na minha experiência como a pessoa do outro lado da sala, calada com meus - mais ou menos - vinte colegas.

Mas eu não quero ser só mais uma professora. Só mais uma professora que joga conteúdo sem se preocupar se o aluno está entendendo ou não. Só mais uma professora que não tá preocupada se o seu aluno vai sair de lá educado - e isso não significa compreendendo a matéria da sala de aula, mas educado como ser humano, respeitoso e gentil. Mas acho que todo formando em licenciatura sai com essa visão romanceada, que quer fazer a diferença... E alguns anos depois lá está o formando um dia iludido, falando como seus alunos como se eles fossem uma tábua rasa.

Eu não quero esse ciclo comigo.
Como que faz pra não deixar isso acontecer comigo?

***
(em retrospecto, talvez eu esteja muito preocupada
com algo que não está tão perto de talvez acontecer.
preocupação antecipada nunca é bom.)