segunda-feira, 20 de agosto de 2012

This is the end... If you want it.


Um celular começa a tocar. Uma mão pálida e fina agarra e atende, sem olhar no visor.

– Em... – Começou uma voz conhecida, novamente.
– Agora não. – Falou Emma, o som da voz da menina ainda demonstrava que ela estava magoada.

Mas já fazia três semanas, por Deus. Quanto tempo demoraria pra ela a perdoar?

– Eu sei que você está decepcionada, Emma. Eu SEI disso. Mas quantas vezes eu tenho que dizer que eu te amo? Quantas vezes eu vou ter que tentar provar meu amor por você? Que aquilo não significou nada? Eu te amo. Eu te amo. Eu não vou deixar você sair assim, não agora.

Lisa ouve um soluçado do outro lado da linha.

– Não, Lizzie... Você pode me falar que tudo que você me disse antes não significou nada. Você pode falar que sua confusão não significou nada, que hesitar no nosso relacionamento não significou nada, que falar que nós duas éramos um erro não significou nada, que não podia mais acontecer nada entre nós não significou nada. Mas não me diga que aquilo não significou nada. 

– Mas não significou e nunca significará! Você é a pessoa que eu amo, você sabe disso! 

– Sei? Eu realmente sei disso? Palavras são diferentes de ações. Eu só escuto palavras... E vejo ações contrárias a isso.

– Será que você ainda não percebeu que depois de 22 dias eu continuo te ligando todos os dias, sua estúpida? Que eu já bati tanto na sua porta que sua mãe teve que ligar pra polícia pra me fazer parar de dormir nos degraus da porta? Você tem que perdoar. Eu não sobrevivo sem você.

Emma deixa uma lágrima teimosa escapar. 

– Nós duas sabemos que você sabe sobreviver muito bem sem mim. Mas não podemos afirmar o contrário...

Tu... tu... tu... Emma tinha desligado o telefone. Mais uma vez.

(Alguns - muitos - dias depois)

– Eu ouvi dizer que elas terminaram. – Cochichou uma garota pra sua melhor amiga.

– Parece que ela... com o melhor amigo da Emma! – Cochichou outro par de amiguinhas.

Era tudo que Lisa ouvia nos corredores das escolas. O cochichado de pessoas que não sabiam de nada. Nunca saberiam de nada.

– É... Emma não saiu de casa nenhuma vez depois disso. – Disse outra.

– CHEGA! Vocês querem cavar minha vida? Vocês não sabem de nada! Vão todos se foder! Vocês todos! – Grita Lisa para rostos perplexos enquanto bate o armário e vai embora em passos fundos.

Emma estava mais magra. Ela sempre foi magricela, mas dava pra ver os ossos da sua costela nitidamente agora. Seu rosto... pálido, sem vida. Seu cabelo sem brilho. Olheiras fundas. Ela parecia uma porra de um cadáver. 
Lisa se assustou ao ver quem tanto amava.

– EMMA! – A garota gritou. Emma não a olhou nos olhos.

Tinha medo de o fazer e desabar ali mesmo, em frente de toda a escola.

– Olha pra mim, por favor. – Lisa tentou. – Por favor!

Emma levantou a cabeça e deu de cara com uma Lisa preocupada. Era pior do que imaginava. Ela queria esquecer os traços "D"ela.

– Você tem comido? Você vem pra um hospital comigo AGORA! – Disse, arrastando a garota pelo corredor.

Elas não foram pro hospital. Emma sabia muito bem o caminho da casa de Lisa. Não disse uma palavra o caminho todo, nem quando foi posta na mesa da cozinha, com uma tigela de cereal a sua frente.

– Olha, Emma. Eu sei que eu já disse isso várias e várias vezes. Mas eu vou dizer essa vez, e só mais essa vez... Eu sei que isso tem te matado por dentro E por fora, olha só sua aparência. Você parece uma merda de um defunto. Eu sei que você realmente gosta de mim. Eu sei que essas coisas de magoam mais do que eu imagino ser possível. Eu estou REALMENTE arrependida pelo que eu fiz, eu sei que não foi certo... Eu só tentei mais uma vez... Agradar minha família. Trazer alguém pra casa que eles realmente aprovariam. Eu sou... Eu sei... Eles sabem agora. Todos sabem agora, e eu não ligo. Sabe porque? Porque eu te amo. Eu te amo e eu fui e sou uma idiota por não ter percebido isso antes de toda essa merda dessa situação. O Luke...

Um gemido arrastado sai do peito da Emma quando ouve o nome de Luke.

– O Luke não deveria ter acontecido. Não vai mais acontecer. Eu só pensei que fazendo isso, você também pararia. Mas eu não... não consigo viver sem você. Eu tentei isso esse tempo todo, e esse tempo todo só vem você na minha mente. Eu. Te. Amo. Será que dá pra entender isso?

– Não.

– Não o que?

– Não significa que nós... não podemos. Só não podemos.

– Como assim?

Emma levantou a cabeça. – Eu não posso ficar com alguém que não sabe o que quer, Lizzie.

– Mas eu sei o que eu quero! Eu quero VOCÊ!

Uma chama fraca apareceu nos olhos de Emma.

– Não me interrompa, por favor. Eu não posso ficar com alguém que não sabe o que quer. Sabe o quão difícil foi pra mim admitir pra mim, pra minha família e pro mundo que eu gosto de garotas... de uma garota? Foi difícil. Mas eu fiz isso sem pensar duas vezes, porque eu sabia desde o começo que o que eu senti, sentia e continuarei sentindo por você é amor, com todas as letras. Daqueles que vale a pena lutar, sabe? E ver você sem pensar o mesmo me machucou. Mas eu continuei lá, porque eu achei que eu, que NÓS, iriamos conseguir passar por isso. Achei que, sei lá, seria uma coisa muito passageira, uma coisa que nem importaria com o tamanho do meu sentimento por você. 
Mas sabe o que realmente me machuca? É que importa. Porque você não vê isso do mesmo jeito que eu, você não viu o que estava em jogo a tempo de se jogar e salvar o que tínhamos. Era perfeito. Você. arruinou. o. perfeito. E porque? Porque você não tinha certeza e eu duvido que você tivesse alguma até perceber o estrago que você fez. Me destruiu completamente. Eu estou completamente acabada por dentro, sabia? Você me bagunçou toda. Emma solta um risinho. Antes essa frase era tão... inocente. Eu achava que você só podia me bagunçar por bem. Mas não. 
Eu não posso ficar com você, Lizzie... porque eu não aguentaria essa indecisão novamente. Eu não aguentaria você saindo da minha vida, eu não aguentaria você decidindo que "já bastava", que já tinha tido o suficiente de nós. Não novamente. Eu iria MORRER. Já é difícil suficiente uma vez apenas. Eu não quero que isso se torne ainda mais difícil. Porque, por mais complicado, árduo falar isso agora... Eu te amo. Eu te amo de uma forma tão intensa e pura que eu sei que eu nunca vou conseguir amar alguém novamente. Sabe quando dizem que sua alma gêmea, você só conhece uma vez? Então... É você. E é por essa razão que eu não posso ficar com você. E eu sei que eu vou passar minha vida inteira me perguntando "e se...?", mas vai valer a pena no final. Porque sim, eu estou quebrada, e vai levar muito tempo pra todos os meus pedaços serem juntados novamente, e nunca mais vão ser os mesmos. Todos vão conseguir ver as rachaduras tão claramente quanto eu vejo. Mas eu estou começando, sabe? Eu estou começando a colocar cada caquinho do meu ser em seu devido lugar.

Emma levanta e atravessa a porta, deixando uma tigela de cereal e o amor da sua vida para trás.

3 comentários:

  1. Que conto maravilhoso Sofia <3 Elas duas me lembram Naomily. No começo, a Emily sabia bem o que queria... mas a Naomi tinha medo.

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  2. "Emma levanta e atravessa a porta, deixando uma tigela de cereal e o amor da sua vida para trás." Ai. Que. Profundo.

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  3. Ai. Meu. Deus.
    Tão bom quando você lê algo e se encontra em alguns versinhos, e termina com lágrimas nos olhos. Amei!

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