segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O quão pouco de mim restou.


Ela tinha tomado uma decisão. Ia ser naquele dia. Naquele dia... ou nunca.
Pensar na situação que se encontrava a deixava irritada. Extremamente irritada, e ela sabia que não conseguiria dar continuidade ao seu "plano" se estivesse sóbria. Virou uma dose de vodka antes de olhar ao redor.

O local estava divinamente decorado. As cores dançavam nos olhos da garota, o azul brilhando em um dos olhos, o prata no outro. A dinâmica das mesas era impressionante. As flores eram maravilhosas - ela nunca soube muitos nomes de flores para distinguir quais estavam sendo usadas.

Em outra situação, ela teria desfrutado da beleza muito mais.
Não nessa, porém.

Nesse dia, ela só tinha olhos para uma pessoa.
Uma pessoa que havia passado o ano em seus pensamentos. E ela não aguentava mais.

O viu do outro lado do salão, conversando com alguém que ela nem ao menos reconhecia. Ele parecia brilhar em seus olhos.

Resolveu que não iria diretamente a ele. Se acalmaria primeiro - tinha certeza que os batimentos do seu coração eram ouvidos a 5 metros de distância, pelo menos.

Mais uma dose.
Mais uma.
Outra.
"Moço, me vê mais uma."

Ela o viu se levantando e andando até onde ela estava.

Só teve tempo suficiente para perceber que ele estava indo até ela quando ele chegou.

"Oi" Ele abriu um sorriso. "Você está linda."

"O-o-brigada."

Ele abriu ainda mais o sorriso. "Não acha que está bebendo mais do que deveria? Estás até gaguejando..."

O filho de uma mãe sabia que não era o álcool que a fazia gaguejar. 

Ela se recuperou do choque. "Não. Na verdade, acho que é meio necessário."

"Necessário? Por que?" Ele tirou o copo da mão dela e deu um gole. "Isso está forte, moça"

"Porque se eu não tomar o suficiente eu vou acabar sem conseguir falar tudo que eu quero falar pra uma certa pessoa." Puxou o copo das mãos dele, tomando mais um gole. "E eu sei que isso está forte, moço".

"Quem seria essa certa pessoa?"

"Você não gostaria de saber."

"Me conta!"

"Você é tão fofoqueiro às vezes, sabia? Parece que nunca viu um ser humano."

"Ah, por favor..." Ele fez uma cara tão bonita que ela se sentiu quebrando em milhões de pedacinhos por dentro.

"Quer mesmo saber?"

"Óbvio."

"Você."

Ele se engasgou na bebida - que tinha surrupiado da menina sem ela ao menos perceber.

"Bem," Ele disse, quando conseguiu parar de tossir. "então é melhor começar logo, não é?"

Ela pigarreou. "Você é extremamente bonito, sabia?"

"Estou sabendo agora."

"E não é só porque você está arrumado, com esse cabelo cortado e esse terno que te deixa oh-tão-sexy, mas mesmo quando te vejo com aquela cara de sono antes de começar a aula, com aquele sorriso preguiçoso de lado, ou quando você está irritado... ou quando você fica com aquela cara de quem não está entendendo nada, é a minha favorita, sabia? Dá vontade de te puxar pra perto e não soltar nunca mais." Tagarelou a menina, colocando a cabeça no balcão, fazendo com que seu cabelo se espalhasse em volta do seu rosto. Mas ela nem se incomodou - estava ocupada demais admirando-o. "Mas nem sempre porque você é bonito por fora, não que você não seja, pois eu te acho tão tão tão lindo, mas é porque você tem sempre algo bom pra dizer, algo que te motiva a seguir em frente apesar de toda a merda, e você é sempre tão inteligente e eloquente e eu simplesmente adoro sua escolha de palavras."

Ele não conseguia tirar os olhos da boca dela; ela não conseguia parar de falar...
"E gostar de você me faz pensar em o quão pouco de mim restou depois disso, pois eu sabia quem era mas agora eu não sei de mais nada."

E mais:
"E eu sei que isso é totalmente errado, mas a culpa não é minha se você é tão incrivelmente sexy COMO ALGUÉM PODE CONSEGUIR SER TÃO SEXY ASSIM? E desde o primeiro dia em que te vi esse ano, sim esse ano porque ano passado eu não conseguia te aguentar porque você era incrivelmente chato mas eu percebi que algo tinha mudado você não era tão mais insuportável e como eu consigo aguentar ficar perto de você e não te beijar e eu só consigo pensar nisso e e e"

Ele deitou a cabeça no balcão,exatamente do mesmo jeito que a garota, e ela não conseguiu terminar a frase. Passaram um bom tempo apenas olhando um para o outro, ela subitamente mais sóbria e ciente do que tinha dito e ele... bem, ele era o poço de mistérios que sempre foi.

"Desculpa atrapalhar, mas vocês podem por favor tirar a cabeça da bancada? Tem gente tentando trabalhar desse lado" Falou o garçom, meio irritado meio brincalhão. Poucas vezes havia visto uma cena como a que acaba de presenciar. 

"Desculpe" Disseram os dois ao mesmo tempo, levantando rapidamente. A menina cambaleou e ele a segurou.

"Eu realmente não deveria ter dito tudo aquilo, não é?" A menina perguntou, já sabendo a resposta. Os lábios sorriam e os olhos transbordavam de lágrimas.

"Não, não, não." Ele disse. "Você realmente não deveria."

Ela fez menção de sair dos braços dele, mas ele a segurou mais forte. "Sabe por que? Porque eu não sei como eu vou conseguir ficar perto de ti sem te beijar agora. Só não sei."

Eles deveriam ter se beijado - era o momento perfeito -, mas eles só se encararam. Um sorriso nos lábios. Uma leveza no peito.

Ela o abraçou. "Você não sabe como isso me faz feliz."

"Você não sabe como você me faz feliz."

Você não sabe como você me faz feliz.
Você não sabe.

Você.

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