domingo, 27 de abril de 2014

she was here

O peito dele subia e descia calmamente e ela o olhava. Quando seus olhos se encontravam, eles soltavam uma risada leve. A dele dizia "estou tão feliz que nós finalmente nos declaramos" e a dela respondia "isso provavelmente é a melhor coisa que já me aconteceu". Maria o olhou por mais alguns segundos e rolou para o lado como se tivesse tido uma ideia brilhante. João a olhava curioso.

Ela levantou da cama e foi até a escrivaninha, onde guardava todos seus lápis. Abriu a segunda gaveta e tirou de lá uma caneta permanente. Quando virou para olhá-lo, ele virou o rosto rapidamente, encarando o teto como se fosse a coisa mais interessante que já tinha visto.

Ela soltou mais uma risada e voltou para a cama, olhando-o como se ele fosse uma tela branca que ela iria começar a pintar.

"O que foi?" ele perguntou, os olhos brilhando ao fitá-la.

Ela abriu um sorriso (ainda mais) largo e soube por onde começar.

"Aqui" disse, destampando a caneta com a boca e inclinando-se para a frente. João riu quando sentiu a caneta.

"Fica quieto! Você vai me borrar" ela falou depois de tirar a tampa da boca - mas um segundo depois desatou a rir.

Maria esteve aqui.

Ele levantou o tronco apenas o suficiente para saber o que ela havia escrito.

Ela se inclinou em direção ao braço esquerdo, onde depositou três beijos antes de escrever.

Maria esteve aqui.

E no ombro direito. Maria esteve aqui.

E na barriga. Maria esteve aqui.

"E o que diabos eu faço enquanto você me ataca como a louca da caneta permanente?"

"Você pode cantar... sua voz é linda" ela disse sem nem ao menos pensar. João bufou, como se a ideia tivesse sido completamente absurda. Segundos depois, porém, ele começou a cantarolar.

Três beijos, Maria esteve aqui;

Três beijos, Maria esteve aqui;

Três beijos, Maria esteve aqui;

Dois minutos depois, a morena pareceu cansar. Deitou e fitou sua obra de arte agora completa.

"Você esqueceu um lugar" João disse, rindo.

"Não esqueci nada"

"Esqueceu sim"

"Então me diga qual foi" Maria disse, brincando.

"Não, não" ele falou, tomando a caneta das mãos dela. "Eu que vou escrever dessa vez"

"Ok" ela disse, esperando.

"Cê tem que fechar os olhos, Maria"

Ela concordou. Conseguia sentir o braço dele se movendo, mas não tinha ideia do que ele estava fazendo.

"Pode abrir"

E lá estava: no meio do peito, meio pra esquerda.

X
Maria está aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário