terça-feira, 5 de março de 2013

Girl Scout Cookies


Toco a campainha.

Tu abres a porta, com cara de "mas quem diabos está tocando a campainha essa hora...?", pois já era extremamente tarde para receber visitas.

E eu olho para ti. Teus olhos cinzentos, tua face pálida. E, por um milésimo de segundo, permito-me pensar que tu não me esqueceste. Não inteiramente.
Permito-me imaginar que uma parte de ti ainda invadiria casas de um alguém comigo.
Vandalizarias ruas.
Fumarias teus preciosos cigarros.

Não te importarias. Não nos importaríamos.
E naquele breve momento que teus olhos brilharam em confusão, antes de reconhecer-me.
Tu me disseste a resposta.

Não.

Não perderias teu precioso tempo comigo. Não de novo.
Não passarias tua noite jogado junto aos cacos de vidro, pois pra ti seria muito doloroso.

Desconfortável. Assim como minha presença.

Percebo que tu me mandarias embora em palavras curtas e secas.
O tom de voz extremamente baixo, antes que tua nova garota pudesse ao menos perceber que alguém - alguém importante - passou por aqui.
Dirias "não era ninguém amor, só uma escoteira vendendo biscoitos", que tu não sabes mentir.

E viro-me, prestes a ir embora. Não é de "ti" que preciso.
Preciso de algumas boas doses de whisky. Preciso de um garçom de bar desajeitado.
Preciso de uma noite inconsequente.
De acordar sem lembrar de nada. Nem ao menos me lembrar que te vi - mas me lembraria de qualquer forma, mesmo que não soubesse que lembrava. A marca que tu fizeste em alguns breves segundos estaria ali, para sempre.

A porta se fecha (a porta sempre se fecha), e deixo-me desabar nos degraus que ali se encontram.
O diálogo que escapa pelas frestas da porta não escapam-me.

"Quem era, querido?"

"Não era ninguém, amor. Era só mais uma daquelas garotas que vendem biscoitos ou doces"

"Essa hora? Mas são três da manhã!"

"É, pelo que eu soube tem concurso de quem vende mais ou algo do tipo. Acho que ela deve estar desesperada..."

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