quarta-feira, 20 de abril de 2011

Amor, veja bem, arranjei alguém chamado "saudade".

London, 23 de agosto de 2007.

Querido Você,
Não sei explicar muito bem. Uma hora você estava aqui e de repente não estava mais. Meu bem, eu sei que você pôde ver minha cara de "ótimo, não me importo" nos primeiros meses. Mas você deixou um buraco enorme. Foi aí que eu percebi o quanto você me fazia bem. Você estava sempre lá, mesmo nas piores horas.
Talvez eu te tratasse mal na maioria das vezes. Tenho quase certeza que sim. Agora as memórias são borradas, não consigo definir minha imaginação da antiga realidade. Passado-presente. Mas eu não lembro, nem em minha imaginação, de te falar as três palavras que você costumava me falar. Não no fim da conversa, mas do nada.
Aquelas, sabe... Eu te amo.

Hoje faz cinco anos que você não dá notícia. Quatro anos e meio que eu não tenho mais coragem de pensar/falar seu nome. Você agora é Você. Talvez eu nem lembre seu nome mais. Cinco anos que eu não vejo mais seu sorriso para a minha cara emburrada.

Meu bem, não me culpe pela minha cara não mais emburrada. A vida me fez ter essa cara de nada. Desisti de mim.

Você faz falta nos dias ensolarados, quando batia na minha porta para tomarmos um sorvete. Eu dizia "não", grossa. Grosseria é meu ponto alto. Mas você insistia enquanto eu esperava encostada na porta você ir embora. E eu sabia que você não iria.
E eu aceitava ir, só pra ser irônica e sarcástica até você demonstrar desapontamento.

Mas você foi o único que não desistiu de mim. Do meu jeito singular mal-educado de ser. Um dia desses me peguei falando "Eu amo Você".

Agora sua casa está abandonada, cheia de cartas que você jamais irá ler. Essa, porém, guardarei com carinho. Sob o assoalho quebrado, perto da minha cama. Ainda está lá o pequeno pingente de bailarina. Também não faço mais pliés ou grand pliés, e muito menos demi-pliés. Minhas sapatilhas de ponta estão muito bem aposentadas atrás da porta.

Mas isso não importa.
O que importa agora é o quando essa culpa está me consumindo. Eu já te chamei de idiota, já te chamei de burro, já te chamei de todos os nomes que eu não deveria chamar. Mas nunca te chamei de amor.

Você, meu amor... Você me deixou.

Mas não pense que estou sozinha. Você foi substituído por alguém... Alguém com um nome meio esquisito, eu nunca tinha ouvido falar.

Uma tal de saudade.

2 comentários:

  1. Que texto... Magnífico! Você definitivamente brinca com as palavras, Sofia. Parabéns, de todo coração.

    Uma tal Manuela.

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  2. E eu chorei. Eu li o título que, por acaso, vem da música que eu mais gosto do LH, sabia que ia ser lindo. Ando sentimental e esse texto faz tanto sentido, tanta verdade, saudade.

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